Após passar em concurso, homem que morou por mais de 12 anos nas ruas diz que: “Conhecimento é a única coisa que ninguém pode tirar”

A educação é uma ferramenta de transformação. É o que defende o bancário Ubirajara Gomes. Depois de viver mais de 12 anos nas ruas do Centro do Recife, conseguiu passar em um concurso público do Banco do Brasil e mudou de vida. As bibliotecas públicas foram um refúgio estudar e ser aprovado no supletivo e também na seleção.
“Estude porque o conhecimento é a única coisa que ninguém pode tirar sua. Eu posso perder emprego, dinheiro, casa, mas conhecimento eu sempre vou ter“, afirmou.

Ubirajara contou que foi morar na rua por conta de desavenças familiares, mas disse que nunca quis parar de estudar por enxergar nos livros a única forma de sair das calçadas dos hospitais do Centro do Recife, onde costumava dormir. “Eu queria sobreviver e mudar um pouco a vida, mudar aquela realidade“, disse.

“Eu ia na biblioteca pública do estado, eu ia na Unicap [Universidade Católica de Pernambuco], eu ia na biblioteca do Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em Pernambuco], do Sebrae. Onde tivesse uma biblioteca com acesso liberado, eu entrava e ia estudar, ler jornais, livros, sempre estudando“, relatou.
Ubirajara contou que voltou a estudar em 2001, após conseguir matrícula em um colégio público, para a turma do sexto ano.

“Fiz o supletivo. Consegui passar e, em vez de ir para o sétimo ano, consegui concluir o ensino fundamental. Fui atrás do supletivo de nível médio, porque, na época, eu já estava fora da faixa. Estudava à noite. Quando sobrava merenda do pessoal da tarde, a gente comia“, relatou.

De acordo com o bancário, o certificado de conclusão do ensino médio veio em 2006. No ano seguinte, decidiu tentar vários concursos públicos e começou outro processo de dedicação e estudos, além de contar com a ajuda das pessoas.
“Lembro que, no dia da prova do Banco do Brasil, eu tinha R$ 2 e comprei uma caneta e um bombom. Eu precisei ir andando da Madalena até o local da prova. Foram 27 quilômetros andando para ir e outros 27 para voltar“, contou. Das 150 questões da prova, ele errou apenas 17.

Julho de 2008 ficou marcado na vida do bancário, que foi convocado para o cargo na cidade de Águas Belas, no Agreste do estado, com carteira assinada e salário fixo. Depois disso, Ubirajara alugou casa, casou e somou suas conquistas, todas derivadas de muita dedicação.
Agora, o bancário quer o ensino superior e sonha com voos mais altos na bolsa de valores. “Eu quero terminar a faculdade, ainda não consegui. E começar a trabalhar na minha área. Quero ir para o Rio de Janeiro ou para São Paulo“, contou.

Recomeço do supletivo
O supletivo feito por Ubirajara é oferecido pela Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco. As inscrições para a edição deste ano seguem até o dia 30 de junho. O gerente de avaliação da secretaria José Dionísio Júnior explicou que qualquer residente do estado pode se inscrever para receber o certificado.
“Ele fez o exame supletivo conosco e não tinha condições de permanecer na escola. Ele precisou estudar nas ruas, com seus livros. Fez o exame conosco, conseguiu a aprovação e recebeu certificação para depois fazer o concurso“, afirmou. 

Via G1

Artigos relacionados