Terezinha do Acordeon: 70 anos de uma vida dedicada ao forró

“Olhe moça, cantei para multidões, me apresentei ali do ladinho dos maiores músicos. Recebi a maioria deles na minha casa servindo uma boa xícara de café. Eu sou uma mulher realizada”. Afirmação que vem de uma forrozeira e do Sertão nordestino e, portanto, merece iniciar estas linhas. Trata-se de Terezinha do Acordeon e dos seus 70 anos de vida recém-completados no último 15 de julho, com boa parte dedicado a um dos gêneros da música que segue tomado pelo machismo ‘nosso de cada dia’, mas que guarda na resistência de nomes como o dela o deleite de que lugar de mulher é mesmo onde ela quiser. O de Terezinha foi nos palcos, dominando o acordeon desde menina. “Era um mundo masculino (…) Então devagarinho, devagarinho fui observando aqui, ‘tucaiando’ ali, daí fui deixando o acordeon tomar conta de mim e surgiu uma bela parceria. De menina pequena lá do meio do Sertão, saindo de Salgueiro e hoje estou aqui tocando e cantando”, enaltece ela em entrevista à Folha de Pernambuco.

Cidadã do Recife – com direito a medalha e título concedidos em 2017 –, firmar-se como mulher do forró é um privilégio que ela carrega mas sem peso, e sob uma leveza imposta em harmonia ao lado do instrumento que lhe deu o sobrenome artístico e a levou a uma dezena de CD`s gravados e dois discos de vinil ao longo de uma carreira reverenciada desde o primeiro álbum “Alegria do Sertão” (1984). “Enquanto respirar, não paro”, garante. Fincada na tradição do que se convencionou chamar de “verdadeiro forró”, tendo em vista os desdobramentos questionáveis que o gênero segue “ganhando” (ou perdendo?), quando ‘cutucada’ sobre para onde está indo o trio que legitima o ritmo nordestino: o triângulo, a sanfona e a zabumba, ela não hesitou em admitir que “Vez por outra chega um forró disso, um forró daquilo, um forró a moda de não sei o quê, mas para mim forró só tem um, que é o estilo Gonzaga, Jackson e Dominguinhos de ser”. 

Inspirações

Exceção junto aos (poucos) nomes de mulheres no forró, Terezinha atribui ao “mercado difícil” e à regionalização do gênero a escassez de mulheres nos palcos do forró. “Acho que o fato está mais atrelado à opção delas, que foram para outros ritmos”. Em suas referências cita Arlindo dos 8 Baixos, Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, com Dominguinhos exaltado como “espetáculo de talento”. Já entre as forrozeiras que lhe entusiasmam, estão Marinês e Anastácia, sendo esta, segundo ela, “um poço sem fundo de inspiração”. 

“Meu Deus, cheguei aos 70”, esbraveja ela aos risos para logo emendar que “está sendo muito bom”. Autodenominando-se “enxerida”, foi aos 15 anos que ela começou a tocar profissionalmente na banda da cidade (Salgueiro). “Eu entrava tão nervosa para tocar”, confessa. Em meio à pandemia, Terezinha fez lives, conheceu gente nova e interagiu “pelas câmeras e redes sociais”. “Foi o que me animou”. E remetendo às linhas iniciais desta prosa, especificamente à afirmação de que é uma mulher realizada, ela segue sem quimeras, desejando (ainda) mais de si e com projetos para os outros. “Eu ensino jovens a tocar, mas gostaria de abrir uma escola maior com a meninada tocando mais instrumentos da nossa Região. É meu sonho perpetuar o Nordeste nas teclas da sanfona. Já fiz isso com meus filhinhos do coração Cezzinha e Beto Ortiz, mas gostaria e vou fazer muito mais”. 

Terezinha do AcordeonTerezinha do Acordeon Foto: Divulgação

Outro querer de Terezinha do Acordeon coincide com o dos apreciadores do forró que legitima Pernambuco País e mundo afora. “Quero botar meu bloco de Carnaval o ”Sanfona do Povo’’, na rua. É lindo, lindo! E no São João… ah vai ser o melhor que já se viu. Com o povo inteiro querendo extravasar o que não pôde durante esse período. Vai ser um espetáculo de vida”.

Via Folha de Pernambuco

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