Pedreiro cadeirante viraliza com vídeos no trabalho em MG: ‘Falaram que não era profissão pra mim’

José Paulo, de Areado (MG), nasceu com malformação da coluna vertebral. O sucesso nas redes sociais começou após vídeos dele trabalhando como azulejista ganharem destaque na internet.

Simpatia, persistência e cuidado ao aplicar azulejos nas obras em que trabalha. Essas são algumas das características que chamaram atenção do público e tornaram um pedreiro cadeirante, morador do Sul de Minas, um influenciador digital na área da construção civil.

Ele é José Paulo Rocha, de 31 anos, de Areado (MG). O profissional ganha cada vez mais destaque em meio ao público que consome conteúdos sobre o ramo de construções nas redes sociais. Atualmente, há postagens de José que somam mais de 1,8 milhão de visualizações.

Entre as produções, estão vídeos do profissional trabalhando como pedreiro especialista em azulejos. A profissão dele, mais conhecida como azulejista, é responsável pelos acabamentos da construção. Entretanto, apesar do sucesso de hoje, a carreira de José nem sempre recebeu tanto apoio assim.

Carreira como influenciador digital

Foi pra quebrar um pouco o preconceito”.

Isso foi o que motivou o azulejista a finalmente começar. Natural de uma cidade sul-mineira com pouco mais de 15 mil habitantes, os primeiros desafios da vida de José Paulo vieram desde a infância.

Ele nasceu com mielomeningocele, uma malformação da coluna vertebral e da medula espinhal, que acontece nas primeiras semanas de gestação. Desde então, ele faz uso de uma carreira de rodas.

Eu sempre morei com meus avós, até no começo, porque minha mãe não aceitava muito, sabe? Cadeirante, assim”, contou.

Foi com o apoio da família que ele descobriu a paixão pela área da construção civil. Em meio às incertezas, José Paulo só tinha uma motivação: ele queria quebrar um preconceito dolorido e desnecessário, que ele não precisava passar pelo resto da vida.

Trabalho em família

Aos 16 anos, com certeza do que queria, José Paulo começou na área da construção civil. Durante muitos anos, ele tomou gosto pelo ramo ao observar o trabalho do avô, Sebastião Rufino, que era pedreiro. Por isso, desde bem jovem se iniciou o desejo em aprender a profissão.

No começo, muita gente criticou. Falaram que não era profissão pra mim, que era uma coisa perigosa, que eu não ia dar conta do trabalho”.

O avô foi o primeiro familiar a acreditar em José Paulo e dar o apoio que ele precisava para conseguir aprender o serviço. “Ele me incentivou, falou: ‘Vamos sim. Eu vou te ensinar como é’”.

Em 2015, o Sebastião faleceu e José continuou o legado. Com a tia e o tio, ele passou a morar. Foi um familiar, que trabalhava como azulejista, quem ensinou José os toques finais das construções.

Eu trabalhava na parte bruta da construção civil, era na alvenaria. A gente trabalhava de levantar casa, levantar parede, concreto de chão, sabe? Agora, vai fazer uns 8 ou 9 anos que estou trabalhando só como azulejista”, contou.

Criação de conteúdo

Em 2020, em meio à pandemia, ele começou a divulgar o trabalho na internet por meio de vídeos. Após o incentivo de um profissional da área, que conheceu pelas redes sociais, foi que ele pegou gosto pela ‘nova profissão’.

Apesar do maior público de José estar nas redes sociais, nas ruas de Areado (MG) o contato com o pessoal não é diferente. Os moradores também já reconhecem o conterrâneo que veem nas redes sociais.

Recebo bastante mensagens. Às vezes, alguém agradecendo por quebrar esse preconceito, elogiando o trabalho, pela força de vontade, sabe? Hoje tenho colegas de todo lugar do mundo”, conta.

Os vídeos que fazem tanto sucesso são gravados por José. Às vezes, ele recebe ajuda de colegas de obra. Já a edição dos vídeos fica por conta de uma vizinha, a Ana Luiza Souza, de 14 anos.

A adolescente conta que, apesar de não ter um celular muito bom, faz o melhor para conseguir ajudar o azulejista com a edição do material. Ela faz os cortes das imagens, coloca músicas e deixa o vídeo pronto para ser postado.

Eu sei que às vezes o vídeo não sai perfeito, mas é bem rapidinho. Tento fazer o máximo que eu consigo, dou o meu melhor. Fico feliz demais da conta em poder ajudar”, disse Ana Luiza.

Colhendo frutos

Em abril deste ano, José Paulo colheu um dos primeiros frutos na carreira como criador de conteúdo na área de construção civil. Ele participou de um dos maiores eventos do ramo civil e de arquitetura na América Latina, a Feicon.

Sobre o impacto que tem gerado nas redes sociais, José Paulo diz nunca ter imaginado que passaria por isso. Mesmo sem precisar provar sua capacidade para ninguém, o azulejista conta que agora, sim, acredita no potencial dele e na mensagem que leva consigo contra o capacitismo.

Eu me sinto muito feliz, sabe? Não tem preço, não tem preço que pague. Saber que a gente está motivando outra pessoa ali é muito bom. Eu posso mostrar um pouquinho que a deficiência está simplesmente na cabeça da pessoa. A gente não pode se limitar a nada”.

Via g1 Pernambuco.

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