“O próximo vídeo poderia ser meu óbito”, diz cantora gospel agredida pelo marido

Flagrada por pessoa que passavam por um shoppping sendo agredida pelo marido, Bruno Feital, a cantora Quesia Freitas descreve o passado de violência ao lado do companheiro e fala sobre a dificuldade de quebrar o silêncio em situações como as vividas por ela

“É um misto de vergonha, porque você não quer acreditar que está vivendo aquela situação, com aquela gravidade. Mas, uma hora, você percebe que está piorando e não quer aceitar. Você quer falar, mas ainda tem medo de a pessoa te matar. Só que hoje estou começando a entender que não preciso do perdão dele.” O desabafo da cantora gospel Quesia Freitas com exclusividade à Marie Claire veio à tona apenas após imagens dela sendo vítima de agressões do marido, Bruno Feital, foram mostradas nesta madrugada. 

No último sábado (dia 21), um vídeo de Bruno agredindo a cantora em um shopping no Recreio do Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, viralizou após ser divulgado em redes sociais pelo irmão de Quesia, o também cantor gospel Juninho Black. Segundo Quesia, no entanto, esta não foi a primeira vez que ela foi vítima de violência. Quesia relata que desde o dia seguinte ao casamento, em 2018, já sofria violência. 

Os dois se conheceram há um ano e meio e casaram após um mês de namoro. Segundo Quesia, todas as vezes que ela era agredida pelo marido, ele dizia estar “possuído por um demônio” e prometia buscar tratamento espiritual. Mas a violência não cessou.

Após a agressão no shopping no último sábado, os seguranças do centro comercial chamaram a Polícia Militar, que conduziu Quesia até a 42ªDP (Recreio), onde ela registrou um boletim de ocorrência contra Bruno e solicitou uma medida protetiva.

Quesia já havia prestado outras duas queixas contra o marido por violência doméstica. Em uma delas, de outubro de 2019, a cantora fez um pedido de medida protetiva. Bruno deveria permanecer por cerca de 400 metros distante da mulher. Após alguns meses de separação, neste ano, o casal reatou o relacionamento.

A cantora conta que o marido pediu perdão, mas, logo, as agressões voltaram a acontecer, até uma delas ser registrada publicamente no shopping. Quesia conta que Bruno explodiu ao pedir um café no local, que não tinha a marca de chocolate que ele gostaria.

“Esse dia foi o que eu achei que seria o mais feliz. A gente estava trabalhando muito na empresa que a gente abriu e nós estávamos trabalhando muito nas coisas que eu idealizei. Eu sou impulsionadora. Ele falou para eu trabalhar com ele e depois tirar o resto do dia para a gente e eu fui para o shopping para agradá-lo”, contou. A cantora continua: “Eu quis pagar um café e não tinha o chocolate que ele queria. Até os caras que serviram a gente ficaram olhando. E eu fui atrás do achocolatado que ele queria. Ele queria o de uma marca específica. Ele ficou muito irritado. Eu achei que era coisa de homem. Mas, de repente ele saiu gritando e eu assustei tanto. Quando ele me xingou, eu engoli o choro porque tinha muita gente olhando e ele me empurrou. Já tinha uma mulher filmando, ela era advogada. Ela estava observando desde o início”, lembrou.

Quesia, que tem três filhos de outro relacionamento, diz que perdeu a guarda das crianças por causa de Bruno. “Custava a pegar meu filho mais novo. Nas poucas vezes, ele queria mais atenção do que meu filho de 7 anos”, relata a cantora. “Comecei a ter vegonha do meu filho, você começa a abrir mão para proteger as crianças.”

De acordo com Quesia, Bruno exigia sexo constantemente, mesmo quando o pequeno estava em casa. “Sofri abuso físico, psicológico e sexual”, lamenta ela. A cantora lembra das estatísticas de feminicídio no Brasil e fala como foi difícil perceber a situação na qual se encontrava. “O próximo vídeo poderia ser meu óbito”, diz.

Quesia Freitas e o namorado Bruno Feital (Foto: Reprodução)

Para as mulheres que estão em situação de violência doméstica, ela manda o recado:

“Deus não se esqueceu delas e a Justiça está aí também. Por mais dolorido que seja, se for necessário, que elas fujam. Em um horário oportuno peguem só o documento, procurem uma delegacia, peçam ajuda a um vizinho. É um momento que essa mulher não pode ficar sozinha, mesmo que ela tenha vergonha. Depois elas vão entender, os danos vão ficando em cada uma delas. Só agora estou vendo o dano que estava fazendo em mim. Quando vocêsai, você para para pensar em tudo que estava suportando.”

Quesia conta que esta não foi a primeira agressão dele e que ainda se sente sensível e chocada com o corrido e com a repercussão que o vídeo tomou. “Sabe o que é ser amado? Aquele que você ama é aquele que te faz mal. É um sentimento maluco e contraditório. Essas agressões vão deixando a gente pra baixo. Parece que você não sabe quem você é e que você não tem mais força de ser aquilo que você quer ser”, ressaltou. Ela segue dizendo: “Essa não foi a primeira agressão, mas foi a primeira filmada e divulgada. Tem uma outra que foi filmada no estacionamento de outro shopping que filmaram, mas a minha família conseguiu fechar eu pedi para que essas filmagens não fossem (divulgadas). Eu não sei se tinha menos pessoas, eu não sei o que aconteceu, mas graças a Deus não foram divulgadas, foi depois de um dia de casada. Namoramos um mês e meio e casamos”, revelou.

A cantora ainda diz que o casal buscou orientação espiritual com uma missionária, para tratar do “temperamento” de Bruno. Ela aconselhou a vítima a se separar e alertou que corria risco de vida, porém não mencionou a polícia em nenhum momento. “Ele é uma pessoa que age no impulso, então, qualquer coisa pequena, tira ele do trilho de uma forma muito grande. E ele já reconhecia porque ele falava que era uma pessoa estressada, só que eu não achava que era tanto. Então, se uma ordem que ele desse, e você não concordasse ou você quiser discordar em algo, a última palavra e a única palavra era a dele. Uma vez eu estava com uma missionária e ela começou a ajudar a gente e ela até debateu isso com ele. Ela falou: “Ela tem que falar também, ela tem que ter opinião”. E eu falava: “Você quer ter só a sua palavra e ele respondia: “Sim, só a minha”. E aí, eu não podia fazer nada, fazer academia, sair de casa, meu telefone era clonado. Era assim. E se eu chegasse a sair, para buscar um lanche, ele mandava filmar por câmera”.

A reportagem solicitou o contato do marido, Bruno, que está foragido. De acordo com Quesia, ele tentou entrar em contato após o registro do boletim de ocorrência, mas ela não o atendeu. Quesia prefere verificar com a advogada sobre a divulgação do contato de Bruno e diz que não sabe do paradeiro dele. Marie Claire segue em busca de um contato com Bruno Feital.

No momento, Quesia está em um retiro espitirual em Belo Horizonte, cujo nome não será divulgado para a proteção da vítima.

Via Revista Marie Claire

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