Nordeste: ‘Não posso me acovardar, tenho que me manter forte’, diz policial agredida em curso tático

Os hematomas roxos nas nádegas fazem parte da denúncia feita pela policial que afirma ter sido agredida por um instrutor da Polícia Militar de Tocantins durante curso tático no Ceará.

A vítima, que é do Maranhão, conta que, no oitavo dia de aula, o instrutor Rafael Ferreira Martins alegou que um pedaço de sua pizza havia sumido e, por isso, puniu as mulheres com uma ripa de madeira. Por questão de segurança, a policial não teve a identidade revelada.

Senti na hora aquela dor imensa. Mas aí depois não é o que fica. É a dor interna, é o psicológico que fica”, relatou a policial. “Eu tô achando o tempo todo que eu tô no curso”, acrescentou.

O curso tático acontece em diferentes pontos de Fortaleza e Região Metropolitana e é promovido pela Secretaria de Segurança Pública do Ceará. É aberto a policiais femininas de outros estados.

Das 44 mulheres que iniciaram essa etapa do curso, que dura todo o mês de junho, oito são de fora do estado. O treinamento inclui provas de resistência e de controle emocional.

Ele falou: ‘posição de flexão’. E já começou a bater. Teve essa coisa também de humilhação, de me sentir a pior das mulheres”, recorda a policial.

Cada participante era identificada por um número. A policial que diz ter sido espancada com um pedaço de madeira era a número 34. Ela é investigadora da Polícia Civil do Maranhão e tem 53 anos.

Eu participo de grupos de empoderamento da mulher. Então, para mim, seria até vergonhoso deixar passar isso”, disse à repórter Regina Souza, da TV Mirante ao contar sobre o motivo de denunciar a agressão.

A policial abandonou o curso no oitavo dia, registrou boletim de ocorrência denunciando a agressão, fez exame de corpo de delito. Na última semana, publicou denúncia na rede social.

Essa agora sou eu, vítima de um macho escroto, que se diz instrutor de um curso, um cabo da Polícia Militar de Tocantins”, escreveu no perfil.

O acusado pelo espancamento é o policial Rafael Ferreira Martins. Segundo a policial, o motivo da agressão não teve a ver com o treinamento. Foi por causa de um pedaço de pizza.

“Os instrutores foram comer uma pizza, e eles dividiram algumas alunas para fazer a limpeza. De repente, eu ouço aquele barulho. Ele falando: roubaram minha pizza, cadê minha pizza?“, afirmou. “Foi muito rápido. Ele começou a atingir as meninas com paulada. Umas dez mulheres foram agredidas”, acrescenta a policial.

A policial conta que, na sequência, ela e outras três mulheres foram obrigadas a ficar em posição de flexão mais uma vez e apanharam de novo do instrutor Martins.

“Foi com muito mais violência, foi com muito mais ódio. Eu não aguentei. E dessa vez, eu gritei. Eu dei um grito muito alto”, contou.

Ele repetiu essa mesma posição de forma a humilhá-la, atingir as mulheres na nádega de forma a causar uma vergonha extrema”, comenta Eric Moraes, advogado da policial agredida.

Ainda de acordo com a policial, ela era chamada pelo instrutor por “essa velha que vem do Maranhão”. Ela afirma também que Laurice Maia, sargento da PM do Ceará e monitora do curso, presenciou as agressões. A monitora é casada com o instrutor Martins.

Eu sempre olhava para ela. como se tivesse pedindo uma explicação. Quando eu fui falar com ela, eu vi que ela estava de acordo com aquilo tudo”, recorda a policial.

O instrutor Martins foi afastado do curso logo depois da denúncia. Em vídeos, um grupo de alunas aparece fazendo flexões, num gesto de apoio ao policial quando ele se despedia delas.

As denúncias são contestadas por Daniel Maia, advogado do cabo Martins e da sargento Maia. Ele afirma que a policial caiu durante um exercício.

Esse caso é fruto de uma mentira, uma mentira deslavada dessa aluna. Ela caiu em cima de cocos e, portanto, os hematomas foram causados por esse instrumento que, na verdade, era um coco. Nada mais do que isso”, afirmou.

A policial diz que isso é um absurdo e reafirma que levou pauladas. O exame de corpo de delito não menciona nenhuma queda e afirma que os hematomas foram causados por um “instrumento de ação contudente“.

Via O Povo com a Notícia.

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