Museu do futebol de quilombo indígena em Carnaubeira da Penha vira destaque no Globo Esporte

Um lugar onde as aldeias resistem. Onde as tradições são mantidas e ressignificadas a partir da união de dois povos: os negros e os índios Pankará. Mescla da história de resistência dos quilombos com a cultura indígena. É assim a vida dos habitantes da Comunidade Tiririca dos Crioulos, no Sertão de Pernambuco, situada na cidade de Carnaubeira da Penha, a mais de quinhentos quilômetros do Recife. O caminho até lá é tortuoso. Bodes, bois e cactos em meio a quase uma hora de estrada de terra. Rodeados por serras e com um jeito próprio de se organizar, os habitantes da Tiririca cultivam uma paixão que ao longo dos anos tem unido ainda mais os seus descendentes: o futebol.

“O futebol pra nós é uma coisa boa, porque durante o tempo que você participa você se desliga de outras coisas. Para a gente aqui, o futebol é transmitido como uma festa, como uma alegria”, diz Douglas Bandeira, uma dos principais representantes do esporte na comunidade.

Torneios entre aldeias, contra cidades vizinhas ou apenas o velho bate-bola entre amigos e familiares renderam aos moradores da comunidade alguns troféus e muitas recordações de suas conquistas. Sem o status dos grandes campeonatos, tudo muito modesto, como a vida que eles levam. Mas isso não torna essas lembranças algo menos importante. Foi a partir dessa compreensão que Douglas e “a nova geração da bola” da Tiririca dos Crioulos resolveram criar um movimento de resgate e memória dentro da comunidade. Nasceu o Museu do Futebol dos Bandeirantes.

– Após ter muitas conquistas, troféu espalhado, medalha na casa de um e de outro, um certo dia o pessoal da casa de uns dos nossos amigos foi fazer uma faxina e a vassoura tocou numa taça que tava no armário. Ela caiu no chão e quebrou. Aí desse tempo para cá, eu tive uma ideia para nós pararmos de perder aquilo que a gente ganhou com tanto suor. Resolvemos fazer um espaço para colecionar nossa história. O nosso próprio museu do futebol – afirmou Douglas.

Casa de taipa que abriga o Museu do Futebol dos Bandeirantes (Foto: Reprodução)

Foi aí que ele construiu com as próprias mãos a estrutura que abrigaria o espaço: uma pequena casa de taipa e toras de madeira. O museu foi abastecido com itens modestos, mas cheios de significados para o quilombo-indígena. Além de taças, medalhas, fotografias e camisas antigas, o povo de Tiririca também deu um jeito de representar as premiações mais diferentes. Chifres de bode, em lembrança do bode que serviu de prêmio, ou telhas com letras escritas a lápis das recordações daquelas conquistas.

“Era um carneiro, um peru, um bode… Quando não tinha troféu nem medalha, nunca deixou de ter prêmio para gente celebrar com o povo da comunidade, numa cantoria depois do futebol debaixo da quixadeira.”

O Museu do Futebol – que fica próximo ao campinho de futebol da Tiririca – virou um ponto de encontro e motivo de orgulho para o povo de Douglas, em especial os mais jovens. Para os mais velhos, a repercussão de um espaço tão simples foi motivo de surpresa.

– A gente sabe que isso é um conhecimento e acima de tudo uma forma de mostrar para o mundo que nós existimos e aqui é muito importante – comemora o pai de Douglas, Roberto de Mané Miguel.

Uma repercussão que foi muito além do sucesso entre os habitantes da comunidade. O Museu do Futebol dos Bandeirantes chamou a atenção do Museu do Futebol de São Paulo. Situado no estádio Pacaembu, o local tem um longo acervo que demonstra o futebol como uma grande expressão da cultura brasileira.

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