Joesley Batista reafirma à Justiça que pagou propina para Temer

O empresário Joesley Batista, um dos donos da J&F, reafirmou em depoimento a 15ª Vara Federal de Brasília que pagou propina ao presidente Michel Temer por intermédio do ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures. A propina, uma mala com R$ 500 mil, foi entregue pelo ex-diretor de Assuntos Institucionais da J&F Ricardo Saud a Loures, em São Paulo, em abril do ano passado. O dinheiro da mala seria apenas o sinal de um suborno que poderia bater à casa dos R$ 400 milhões ao longo de 20 anos, conforme cálculos da Polícia Federal.

A acusação está no centro da denúncia formulada pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra Temer. A denúncia foi bloqueada pelos aliados do governo na Câmara. As investigações específicas sobre Temer só devem ser retomadas depois que ele deixar o cargo de presidente. O processo contra Loures segue seu curso normal. O depoimento do empresário, por videoconferência, começou às 9h50.
Em resposta a perguntas do procurar Ivan Cláudio Marx, Batista explicou que a propina estava vinculada à compra de gás da Empresa Produtora de Energia (EPE) , do grupo J&F, de fornecedores da Bolívia sem entraves criados pela Petrobras. O suborno corresponderia a 5% dos lucros da EPE. O valor foi combinado com Rocha Loures, depois de uma conversa prévia com Temer, que teria escalado o ex-assessor como interlocutor do empresário dentro do governo.

— Eu falei para o Rodrigo (Rocha Loures): R$ 500 mil ou R$ 1 milhão por semana. Então fizemos o contrato. Eu falei : oh funcionou! — disse o empresário.

Batista relatou trechos da conversa que teve com Temer no subsolo do Palácio do Jaburu, que deu origem ao pagamento da propina. O empresário voltou a dizer que comentou com o presidente que fazia pagamentos para manter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e do ex-operador financeiro Lúcio Bolanha Funaro na prisão. Relembrou ainda ter dito a Temer que mantinha sob controle um procurador e um juiz, responsáveis por uma das investigações contra ele.

— Eu disse que tava dando dinheiro pro Lúcio, dava dinheiro para o Eduardo. Aí o Temer me surpreende ao dizer que tem que continuar. Aquela famosa frase dele, tem que manter isso. Numa hora dessas o presidente manda que eu tenho que tenho que continuar. Me assustei muito quando ele falou que era para manter isso — contou.

Batista esclareceu detalhes ainda sobre a decisão da Procuradoria-Geral da República de conceder a ele imunidade penal, um dos pontos do acordo de delação do empresário mais criticados. Segundo ele, a iniciativa para tratar do assunto foi dos procuradores responsáveis pela investigação da Lava-Jato em Brasília.

Os procuradores teriam perguntado se ele aceitaria participar de ações controladas para aprofundar a apuração dos casos de corrupção descritos nas negociações do acordo. O empresário não teve dúvidas em aceitar a proposta.

— A Procuradoria-Geral ofereceu imunidade (penal) em troca da ação controlada — disse.

Num determinado momento, o empresário chegou até a conversar com procuradores sobre a possibilidade de participar de uma ação controlada durante uma viagem que Temer faria aos Estados Unidos. Mas, por uma questão de desacerto de agenda com Rocha Loures, a ideia não foi levada adiante.

Batista disse ainda que a ideia de gravar a conversa com Temer no Jaburu partiu dele, muito antes do início das tratativas que resultaram no acordo de delação. O empresário disse decidiu registrar o diálogo com o presidente e com outros políticos para mostrar como era a realidade da política brasileira e, depois, para se defender. Isto porque, mesmo depois do cerco da Lava-Jato, políticos continuavam achacando. O depoimento terminou às 11h35.

O procurador considerou importante o relato de Batista.

— Ele confirmou o que está narrado na denúncia. Os fatos são claros — afirmou Marx.

Já a defesa de Joesley disse que o empresário não teve qualquer conduta inadequada em relação aos juízes responsáveis pelas investigações abertas na primeira instância da Justiça Federal antes do acordo dele com a Procuradoria-Geral. Segundo os advogados, Batista fez referências a um procurador e a um juiz durante o depoimento apenas para confirmar o inteiro teor da conversa que teve com Temer. A defesa não exclui, no entanto, as menções indireta ao procurador Ângelo Goulart, que acabou sendo preso por conta da delação dos executivos da J & F.

Via O Globo

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