Ideia para resistir à seca vira bom negócio em Pernambuco
Acácio do Nascimento, 56 anos, não deixou escapar a chance de ser um produtor de leite diferenciado. Assumiu a alcunha há três anos e, desde então, luta contra a estiagem que insiste em permanecer no Nordeste pelo sexto ano consecutivo. Na tentativa de driblar esses efeitos, o jeito que encontrou foi reunir a família e decidir por agregar valor ao leite das cabras que pastavam no quintal da sua casa em Jataúba, no Agreste.
O sexto ano consecutivo de seca no Nordeste e o agravamento da crise econômica do País são os responsáveis pela baixa na comercialização de bovinos, caprinos e ovinos em Pernambuco. Termômetros para o setor pecuário do Estado, os leilões realizados na 75º edição Exposição de Animais caíram de nove para dois no último ano. Apesar de os números estarem associados a uma fatia do mercado, empresários do ramo dizem que eles são sintomáticos e que refletem a realidade não só da Região, mas do Brasil. A expectativa, contudo, é que o quadro comece a mudar com a chegada de invernos mais regulares a partir de 2017 acompanhado da recuperação econômica.
“Estamos diante de uma das maiores estiagens dos últimos cem anos. O pecuarista fica com receio de comprar o animal por não saber se terá condições de fornecer pastagem e água”, disse o presidente da Sociedade Nordestina dos Criadores, Emanoel Rocha. O Agreste e o Semiárido estão sendo abastecidos por carro-pipa. No total, a quantidade de animais expostos no Parque do Cordeiro caiu de 5 mil em 2015 para 4 mil em 2016.
Para se ter ideia do impacto da seca, Rocha chamou atenção para a queda do rebanho e da produção de leite de 2000 a 2012. Em 2000, 2,4 milhões de bovinos integravam o plantel. Em 2012, eram 800 mil cabeças. “Criadores levaram seus animais para outros estados na tentativa de salvar o rebanho”, lembrou. O mesmo aconteceu com o leite. No mesmo período, a fabricação saiu de 2,5 milhões de litros/dia para 700 mil litros/dia. No entanto, a conjuntura começa a mudar. Hoje, 2 milhões de animais compõem o rebanho e 1,7 milhão de litros são produzidos por dia.
Criador de ovinos da raça Santa Inês, Severino Duarte contou que seu rebanho diminuiu 40%. “Os compradores estão barganhando mais. O jeito é baixar o preço para vender o animal”, disse. Por conta da seca, o representante da Associação Pernambucana dos Caprinos e Ovinos, João Carlos Tavares de Melo revelou ser mais rentável investir no rebanho para melhoramento genético do que vendê-lo para corte.