Florestana tem povo indígena como tema de dissertação no mestrado: ‘Viva, os indígenas Pacará! Os Pankará da serra da cacaria’

A Floresta Elka Janaína dos Santos e Silva, 36 anos, indígena Pankará, defendeu sua dissertação de mestrado na última quarta-feira (28) tendo o Povo Pankará da Serra da Cacaria como tema da pesquisa. A dissertação foi apresentada no programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF).

Leia a dissertação na íntegra:

Sou Elka Janaína, pertenço ao Povo indígena Pankará da Serra da Cacaria. Meus ancestrais são residentes desta Serra. Sou filha de Erasmo Adalberto e Maria Emília, sobrinha da Cacique Dorinha. São meus avós paternos e maternos respectivamente; Adalberto Hermínio e Amalia Maria, o Pajé Pedro Limeira e de Dona Emília, sou bisneta de Luiz Limeira e Luzia dos Santos, importantes de lideranças que contribuíram ativamente com a história de luta e resistência dos Pankará da Serra da Cacaria. Faço parte de uma das quatro famílias que resistiram para manutenção da cultura indígena Pankará, a família Limeira da Serra Cacaria.

Na Serra da Cacaria foi onde vivenciei a melhor infância, adolescência e juventude junto aos meus familiares.
Com essa de pesquisa, percebi que pouco compartilhava da história de meu povo. Hoje posso afirmar que a minha identidade étnica está mais fortalecida. A minha geração não teve acesso as histórias de como se deu a resistência Pankará. Tivemos a nossa identidade étnica negada por séculos, e essa negação nos deixou grandes sequelas, dentre elas um conflito identitário. Tentaram nos silenciar e através de perseguições sucumbir a nossa tradição
Coletivamente estamos reconstruindo nossa consciência política enquanto Povo indígena, buscando através da memória resgatar a nossa história com as narrativas dos principais autores, nossos anciãos, nossos mais velhos que são as fontes base desta pesquisa. Eles viveram e/ou guardam em suas memórias as perseguições, os ataques, as ameaças e as estratégias de resistência para manutenção da cultura. Poder contribuir com a visibilidade dessas narrativas, é trazer à tona o lado da história que não foi escrita, é evidenciar através de narrativas próprias, aqueles que enquanto lideranças deixaram importantes contribuições.

O Estado Brasileiro assume que o Povo Pankará possuí direitos advindo de sua identidade étnica apenas em maio de 2003. Durante o processo de reorganização sociopolítica Pankará, atuei como indígena professora e como coordenadora pedagógica de núcleo das escolas do Povo no período de 2004 a 2016. Neste período participei ativamente do processo de reorganização social e da ressignificação de uma educação escolar indígena específica, diferenciada e intercultural. Essa experiência foi fundamental e determinante para que hoje, enquanto uma intelectual indígena, imbuída de ancestralidade étnica, pudesse através de minha pesquisa contribuir academicamente com história do meu Povo e no processo de fortalecimento da identidade étnica.

O QUE ME MOTIVOU?
Apesar da relevância histórica da Serra da Cacaria para o Povo, ela é pouco mencionada na atualidade pelos Pankará. Dessa forma a pesquisa se constrói inicialmente motivada em buscar evidencias da história da Serra da Cacaria como um território sagrado de ocupação tradicional de luta, resistência e permanência cultural.
Essa pesquisa serviu de base para elaboração de um documentário que tem como título: “Viva, os indígenas Pacará! – Os Pankará da Serra da Cacaria.”
E como indígena Pankará, esta pesquisa é dotada de significância a partir da coletividade étnica que aqui represento. Espero que tanto a pesquisa quanto o produto possam contribuir no processo de construção da consciência étnico política e na reafirmação da indianidade Pankará, tomando como referência que a identidade é construída a partir de situações e contextos específicos em que cada grupo social a produz (OLIVEIRA 1988). A identidade indígena por séculos nos foi refutada tanto pelos antagonistas quanto pelo Estado, mas sempre presente como afirmação da tradição, sendo o “toré”, símbolo da nossa resistência ancestral.

Via Blog do Elvis/NE10

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