Falhas em mutações dão origem ao câncer, diz pesquisa

Cristian Tomasetti
Cristian Tomasetti – Foto: Divulgação

Duas de cada três mutações genéticas responsáveis pelo câncer resultam de erros aleatórios que ocorrem no momento em que as células se dividem, um processo essencial para a regeneração do organismo, segundo um estudo americano publicado na quinta-feira (23), na edição semanal da revista especializada Science. Não são resultado de uma vida pouco saudável ou de genes defeituosos legados por pais e avós, mas de pura falta de sorte.

A conclusão pode parecer fatalista, mas foi formulada a partir de dados sólidos sobre a incidência de 32 tipos de câncer, assim como uma amostra da população e dados epidemiológicos mais amplos, provenientes de 69 países e que representam 4,8 bilhões de pessoas.

Os tumores

O fator sorte também varia segundo os tipos de tumores, determinou o estudo. Assim, 77% dos casos de câncer de pâncreas são resultado de erros aleatórios do DNA na divisão celular, enquanto 18% se devem a outros fatores, como o tabaco ou o álcool, e 5% à hereditariedade. Já no caso dos cânceres de próstata, de cérebro e de osso, 95% seriam resultado da má sorte na divisão celular.

Em relação ao câncer de pulmão, 65% dos casos são desencadeados pelo fumo e 35% por erros na replicação do DNA. “Está amplamente comprovado que evitar certos fatores como o tabaco ou a obesidade reduz o risco de câncer”, aponta Cristian Tomasetti, professor adjunto de bioestatística do Centro do Câncer da Universidade Johns Hopkins e um dos autores da pesquisa. “Mas cada vez que uma célula normal se divide e replica seu DNA para produzir duas novas células, comete vários erros, um aspecto ignorado cientificamente durante muito tempo”, explicou.

No total, “66% das mutações cancerosas resultam de erros quando as células se dividem, enquanto 29% se devem a fatores ambientais e ao estilo de vida, e 5% à hereditariedade”, especificou o médico Bert Vogelstein, codiretor do estudo.

Método e letras

O estudo foi baseado em um modelo matemático e análises genômicas para tentar estimar com mais precisão o papel relativo das três grandes variáveis associadas ao surgimento do câncer, designadas em inglês pelas letras E (de “environment”, ou ambiente), H (hereditariedade) e R (replicação errada do DNA por motivos randômicos ou aleatórios -a tal má sorte).

Quanto à letra H, sabe-se há décadas que os descendentes de certas famílias correm risco aumentado de desenvolver câncer por conta de mutações que afetaram o genoma de um ancestral e foram sendo transmitidas para seus rebentos -nenhum mistério até aí.

Mas, faltava o R. A questão apontada pelo grupo dos EUA é a seguinte: embora o organismo humano seja uma máquina biológica fantástica, ele não é perfeito. Toda vez que uma célula se divide, dando origem a duas células-filhas, ela precisa produzir uma nova cópia de todo o seu DNA. As pequenas ineficiências do procedimento acabam levando a errinhos de cópia nas “letras” químicas do genoma.

Via FolhaPE

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