Faixa etária é desafio para ‘cinquentões’ voltarem ao mercado de trabalho

Conquistar um emprego nos tempos atuais não é tarefa das mais fáceis. Somente em janeiro, foram fechadas 13,9 mil vagas formais em Pernambuco, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Candidatos que ultrapassaram os 50 anos encontram na idade um obstáculo para conseguir uma vaga – são seis meses a mais para conseguir uma recolocação, em média, segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL).

Desenvolvida em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o levantamento aponta que pessoas atualmente desempregadas na faixa dos 18 aos 34 anos estão há dez meses, em média, sem conseguir uma reinserção no mercado. Na faixa dos 50 anos, a média aumenta para quase 16 meses sem arranjar trabalho.

No caso do pernambucano Robson Ataíde, 52, a situação é ainda mais complicada. Sem emprego há 36 meses, o vigilante sai todos os dias do município de Paulista, no Grande Recife, em direção à Agência do Trabalho, na capital pernambucana, em busca de oportunidades, A falta de êxito das tentativas e a idade cada vez mais avançada desanimam o trabalhador. “As empresas dizem que eu estou velho. Sinto que estou sendo discriminado pela minha idade”, lamenta.

Além de vigilante, Ataíde também atua como porteiro, pintor e eletricista, mas não tem êxito em nenhuma das áreas. “Ninguém chama porque todo mundo está sem dinheiro. Já cheguei a trazer um bolo para a Agência do Trabalho e cantar parabéns por ter completado aniversário de desemprego”, reclama, mesmo ao tentar levar a situação com bom humor.

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A carteira de trabalho em branco de Robson Ataíde, 52, demonstra a dificuldade em encontrar oportunidades de emprego (Foto: Marina Meireles/G1)

Para o economista e mestre em finanças Júlio Becher, a situação é mais complexa para os “cinquentões” porque, além do dilema financeiro do corte de custos nas empresas, a questão cultural também pesa na hora da demissão. “Há uma crença de que a mão de obra mais velha tem pouco a contribuir dentro da organização, porque os custos são mais altos e a produtividade é mais baixa”, relata.

Ainda segundo a pesquisa do SPC, 30,8% dos entrevistados com 50 anos ou mais estão desanimados para conseguir um novo emprego, porque não têm visto muitas vagas disponíveis no mercado. Os “cinquentões” também andam pessimistas, porque 48,1% dos entrevistados que estão nessa faixa etária acreditam que o desemprego irá aumentar ao longo de 2017.

A hora da oportunidade

De acordo com Becher, a recolocação no mercado de trabalho pode até ser árdua, mas não deve ser deixada de lado. “É preciso encarar a situação através do prisma da qualificação. Em muitos casos, quem tem mais idade pode se encaixar em cargos mais estratégicos. Num ambiente de crise, onde as empresas precisam de decisões estratégicas o tempo todo, ter esses profissionais ajuda no entendimento dos problemas e na busca por soluções”, salienta o economista.

Além de recomendar o investimento em cursos de reciclagem, o mestre em finanças também sugere a busca por emprego em áreas diferentes da qual o profissional já atuou. Nesses casos, o empreendedorismo pode ser uma saída rentável, desde que haja pesquisas de mercado antes de apostar todas as fichas em um setor.

“O importante é não ficar simplesmente esperando oportunidades para aquilo que o profissional fez durante a vida toda. São em momentos de instabilidade que as melhores oportunidades surgem”, observa.

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Após sair do mercado formal, recifense Ricardo Lyra aposta no empreendedorismo e pensa em aumentar o negócio (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)

Foi justamente após perder o emprego que o recifense Ricardo Lyra, 47, encontrou um momento favorável para investir em uma área totalmente diferente da que atuava. Depois de trabalhar por dez anos na área comercial de uma empresa de locação de equipamentos para a construção civil, ele foi demitido devido à redução de custos da organização e, apesar de ainda não ter chegado aos 50, ele sente que a idade é um empecilho para conseguir uma vaga no mercado formal.

“Por não conseguir uma recolocação, eu parti para o mercado informal e atuo numa foodbike iniciada pelo meu filho, Raphael”, conta. Vendendo doces desde 2015, o pós-graduado em marketing tem se dedicado integralmente ao negócio da família, apesar de não ter deixado de enviar currículos para empresas.

“Eu ainda continuo procurando emprego, mas está difícil pela idade e pela recessão do mercado. No mercado de locação de equipamentos para a construção civil, em que eu tive uma experiência de dez anos, a recessão parece ser a maior no estado”, comenta.

Ainda assim, Lyra tem buscado alçar voos mais altos no empreendimento da família. “Estou fazendo pesquisas para ver a viabilidade de passar para a operação de salgados ou, talvez, partir para um trailer. Estou verificando a viabilidade operacional e financeira, mas a minha intenção é fazer o negócio crescer”, conta.

Via G1

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