Debate aponta riscos de usina nuclear em Itacuruba, no Sertão de Pernambuco

Diante da possibilidade da instalação de uma usina nuclear às margens do Rio São Francisco, no município de Itacuruba, no Sertão pernambucano, movimentos sociais estão se mobilizando em defesa da segurança hídrica e ambiental da região. Uma reunião entre lideranças religiosas e sociais ocorrida na manhã desta segunda (17), na Cúria Metropolitana, no bairro das Graças, debateu o tema.

O arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido se mostrou contrário à intervenção que pode ocorrer no território da Diocese de Floresta. “Como igreja, nós não podemos ficar indiferentes a uma questão tão séria quanto essa, que é um dano à natureza. Fomos procurados por lideranças da região com grande preocupação. E somos solidários  promovemos o debate com pessoas que tem poder para barrar um projeto como esse”, comentou Saburido.

A criação da fonte atômica de energia foi sinalizada no Plano Nacional de Energia 2050, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Além de Itacuruba, outras oito localidades no Nordeste e Sudeste do país estão sendo estudadas para abrigar usinas. De acordo com o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Reive Barros, a Eletronuclear já concluiu estudos que indicam Itacuruba como a área ideal para a construção do empreendimento que custaria R$ 30 bilhões.

Apesar da especulação, a legislação estadual proíbe a instalação de uma usina atômica em Pernambuco. De acordo com o Artigo 216 da Constituição Estadual, no capítulo que versa sobre a proteção ao meio ambiente, está proibida a instalação de usinas nucleares no estado enquanto não se esgotarem toda a capacidade de produzir energia hidrelétrica e de outras fontes.

O debate deu força ao movimento Sertão Antinuclear, formado por mais de 100 organizações que se mobilizam desde 2011. No último domingo (16), uma caminhada percorreu Itacuruba, Mirandiba, Carnaubeira da Penha e Floresta para conscientizar os moradores da localidade a respeito dos riscos que a instalação da usina pode causar.

“Nós que vivemos no Sertão vemos as famílias viverem de promessas, que são, na verdade, ilusões. Não queremos que essa história se repita. O que está sendo proposto vão de encontro aos dados técnicos, que apontam que isso não é bom nem para Itaparica e nenhum lugar no mundo. Neste momento nós desejamos muito mais clareza sobre nosso futuro”, defende o bispo de Floresta, Don Gabriel Marchesi. 


De acordo o membro da Articulação Antinuclear Brasileira e professor aposentado de engenharia da UFPE, Heitor Scalambrini Costa, a construção da usina representa risco a toda bacia do Rio São Francisco. “O Brasil não precisa de usina nuclear para produzir energia. Temos mais de 15 mil megawatts de potência instalada de outras usinas e as duas usinas nucleares de Angra representam apenas 1,1% de tudo isso. Então é irrisório a participação da energia nuclear. Além disso, nossa ação é preventiva.

Porque com a instalação próximo ao Rio São Francisco, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo em um rio que passa por sete estados e atinge 506 municípios e 200 milhões de pessoas. Uma contaminação seria desastrosa para todos”, aponta o engenheiro.
Segundo a professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), socióloga e antropóloga, Vânia Fialho, antes de criar um projeto como este é necessário reconhecer a importância dos povos que vivem nessas regiões, já que seriam diretamente afetados . “Estou falando de povos e comunidades tradicionais, povos indígenas e quilombolas que formam um seguimento maior da população dessa região. Esse empreendimento vem em sequência de uma série de outros, como a Barragem Itaparica, a hidroelétrica Luiz Gonzaga, que já vem impactando a população. Então os direitos dessas populações têm sido negados do ponto de vista territorial. Eles deveriam ser formalmente consultados sobre o interesse dessa implantação”, pondera.

Ao final do encontro, ficou acertado que se deve ampliar a discussão em torno do projeto de construção da usina. E uma das propostas é realizar uma audiência pública no município com representantes do governo, parlamentares e população, além de usar a força de articulação da Igreja para unir esforços com os estados de Sergipe, Alagoas e Bahia, que são cotados como locais alternativos para a instalação da usina.

Via Diario de Pernambuco

Artigos relacionados

Deixe um comentário