CPI investiga se vendedor de Alagoas foi usado como ‘laranja’ de fiadora no contrato da Covaxin

Senadores apresentaram áudio em que vendedor de frios diz ter tido assinatura falsificada e nome usado indevidamente como sócio do FIB Bank, empresa que garantiu a fiança da vacina indiana

O relator Renan Calheiros (MDB-AL) apresentou nesta quarta-feira (25) na CPI da Covid um áudio em que um vendedor de frios de Alagoas diz ter tido sua assinatura falsificada e seu nome usado indevidamente como sócio ativo do FIB Bank. A empresa atua como uma fiadora e ofereceu garantia financeira de R$ 80,7 milhões no contrato firmado entre a Precisa Medicamentos e o Ministério da Saúde.

A carta de fiança do FIB Bank fazia parte do processo de aquisição da Covaxin, que previa 20 milhões de doses a um valor de R$ 1,6 bilhão, mas foi cancelado por suspeita de irregularidades – nenhuma dose foi entregue

O áudio do vendedor Geraldo Rodrigues foi apresentado durante o depoimento de Roberto Ramos Júnior, presidente do FIB Bank. A gravação refere-se a um depoimento prestado por Geraldo a técnicos da CPI.

De acordo com o vendedor, ele descobriu que constava como sócio do FIB Bank em 2015, quando, ao tentar financiar uma moto em Alagoas, descobriu ter restrição de crédito por participar do quadro societário de empresas de São Paulo.

“Meses depois, fui demitido do emprego que tinha e não consegui receber meu seguro desemprego por ainda participar do quadro societário dessas empresas, sendo uma delas a FIB Bank”, contou.

O FIB Bank tem um capital de R$ 7,5 bilhões– sendo que, dentro desse valor, R$ 7,2 bilhões referem-se a um terreno em São Paulo.

Geraldo, por outro lado, disse que trabalha como vendedor de uma empresa de frios e que nunca esteve em São Paulo. “Estou na Justiça há três, quatro anos para resolver essa situação, mas até o momento a gente não conseguiu isso”, afirmou.

Senadores suspeitam que Geraldo tenha sido usado como laranja e que a empresa tenha algum sócio oculto.

Renan ressaltou que o FIB Bank é uma empresa “que foi criada com laranja, em Alagoas, para garantir fiança para os grandes contratos da República, inclusive para licitação”.

“Quer dizer, é uma coisa escabrosa sobre qualquer aspecto”, afirmou Renan.

Empresa de ‘prateleira’

Durante o depoimento, o presidente do FIB Bank ponderou que ainda não ocupava a função quando a empresa foi adquirida. Segundo ele, a garantidora era uma shelf company adquirida por duas pessoas – entre as quais, Geraldo.

“São empresas prontas de prateleira. É muito comum isso no mercado. Dada a burocracia que se tem ou que se tinha de se constituir uma empresa, essas empresas já estão prontas. Vai-se ao mercado e compra-se a empresa”, afirmou Roberto Pereira Júnior.

Após a declaração, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirmou que o método é usado quando “há uma necessidade de passar a impressão de que a sua empresa está constituída há muito tempo”.

“Você vai a um escritório de contabilidade e compra uma empresa dessas, que está lá na gaveta constituída previamente. Essa é uma prática reiterada das empresas Precisa, vinculadas à VTCLog, vinculadas a toda essa rede de contratação: o uso das empresas de gaveta”, afirmou Vieira.

Via G1

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