Ciro chama Temer de quadrilheiro e é vaiado ao propor rediscutir a reforma trabalhista

Pré-candidato à Presidência da República, o ex-governador Ciro Gomes (PDT-CE) chamou nesta quarta-feira (4) o presidente Michel Temer de quadrilheiro e foi vaiado por empresários ao dizer que vai rediscutir a reforma trabalhista. A industriais de todo o país reunidos em evento da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ciro disse não ter poder para revogar a reforma trabalhista, mas que seu compromisso é retomar a discussão. Ele chamou a mudança na legislação feita pelo Congresso de “selvageria” e disse estar do lado dos trabalhadores.
“Meu compromisso com as centrais sindicais é botar esta bola de volta para o meio de campo.” Neste momento, foi vaiado. “Pois é, vai ser assim mesmo. Se quiserem presidente fraco, escolham um desses aí que vêm com conversa fiada para vocês”, reagiu Ciro à plateia. “Confiança não é simpatia. Confiança é não mentir”, disse o pré-candidato, que ao final do encontro, pediu desculpas por qualquer “veemência”, mas afirmou aos jornalistas não ter se sentido agredido.
Em entrevista após o evento, ao ser questionado sobre o episódio, se mostrou desconfortável. Quando comparada a reação da plateia à fala dele e à de seu adversário Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que foi aplaudido diversas vezes, disse que são “sinais dos tempos”. O presidenciável demonstrou incômodo com a insistência dos repórteres neste assunto e em perguntas que abordavam seu temperamento. “Escrevam o que vocês quiserem. Já estou acostumado”, afirmou, indagando a uma das jornalistas quem era o dono do veículo para o qual ela trabalha.
Críticas aos poderes
Antes do momento mais acalorado da palestra, o presidenciável disse que, eleito, quer promover reformas nos seis primeiros meses de governo. Sobre a reforma da Previdência, ele voltou a propor consulta popular. “Não vamos sair do atoleiro sem um amplo diálogo. […] Não estamos virando o jogo. Estamos afundando estrategicamente como nação”, afirmou Ciro, que disse que pretende agir “pesadamente” em questões de juros e taxa de câmbio e defendeu subsídios agrícolas.
No campo político, Ciro disse que o poder político de Brasília está desmoralizado e que parte do Congresso é vista como corrupta. “No Executivo nem se fala. Na minha opinião, há um quadrilheiro na Presidência da República”, disse o ex-governador. Ciro Gomes criticou também o Judiciário, que, para ele, extrapola suas funções. “A quem serve uma democracia onde um presidente da República nomeia um ministro e um ministro do Supremo Tribunal Federal, exorbitando frontalmente a Constituição, por liminar, proíbe este ministro de tomar posse? O Judiciário brasileiro precisa voltar para o seu quadrado. O Ministério Público brasileiro precisa voltar para o seu quadrado”, afirmou Ciro, sendo aplaudido pelos empresários.
Por duas vezes, recentemente, a Justiça impediu ministros de tomar posse. Em 2016, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi impedido de assumir um ministério quando nomeado pela então presidente Dilma Rousseff. No início deste ano, no governo Temer, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) não conseguiu assumir o Ministério do Trabalho.
Questionado sobre essa colocação, Ciro disse em entrevista que não mudaria o critério de escolha ou número de ministros do STF e voltou a fazer críticas.
“O colapso do poder político democrático pela desmoralização da Presidência da República, pela desmoralização da maioria do Congresso, tem permitido essa intrusão completamente descabida”, afirmou o presidenciável. “Esta anarquia já passou do limite.”
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), divulgou nota nesta quarta (4) em protesto contra a decisão da CNI de não convidar um representante petista para a sabatina com pré-candidatos ao Planalto. “Ao excluir um representante do ex-presidente Lula, a CNI deixa de conhecer as ideias e propostas de quem reúne as melhores condições de pacificar o país e retomar o caminho do desenvolvimento”, diz o texto.
Preso em Curitiba desde abril, Lula deve ficar inelegível pela Lei da Ficha Limpa e o PT terá que indicar um nome para substitui-lo nas urnas. Até lá, porém, insistirá que o ex-presidente é candidato e reivindicará que um representante dele participe das sabatinas e debates.
Via Folha de S. Paulo

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