Após 14 anos de obras, ministra da Saúde anuncia inauguração de fábrica da Hemobrás na véspera de visita de Lula a Pernambuco

Fábrica de Fator VIII Recombinante, medicamento usado no tratamento de hemofilia A, contou com investimentos de R$ 1,2 bilhão. Presidente participa de inauguração, na quinta (4).

O governo federal vai inaugurar, na quinta-feira (4), a nova fábrica de Fator VIII Recombinante da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). Feita sob a promessa de tornar o Brasil autossuficiente na produção de hemoderivados, a construção do complexo fabril, localizado no município de Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, se arrasta desde 2010 e foi alvo de investigação, chegando a ser paralisada em 2016.

A fábrica de Fator VIII Recombinante, que contou com investimentos de R$ 1,2 bilhão, foi concluída no fim do ano passado e será inaugurada seis meses depois do previsto. Ela é uma das duas unidades que faltam para que todo o complexo industrial seja entregue, o que deve acontecer em 2025.

O anúncio foi feito nesta quarta-feira (3) pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, em entrevista coletiva no Recife, um dia antes da visita do presidente Lula (PT) a Pernambuco .

Além da fábrica em Goiana, o presidente participa de eventos em Arcoverde, no Sertão do estado, onde inaugura a estação elevatória de água bruta da Adutora do Agreste, e na capital pernambucana, onde sanciona a lei que cria o Sistema Nacional de Cultura.

De acordo com a Hemobrás, a nova fábrica tem capacidade para produzir, anualmente, 1,2 bilhão de unidades internacionais (UIs) do medicamento, utilizado no tratamento de hemofilia tipo A.

A previsão é que, após um processo de qualificação junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os medicamentos de produção 100% nacional comecem a ser distribuídos no Sistema Único de Saúde (SUS) no final de 2025.

Ela [a fábrica] tem uma importância estratégica porque nós não podemos ser dependentes de produtos que são tão especiais em várias situações de problemas de saúde, desde doenças raras, como é o caso da hemofilia, até problemas de queimaduras (…). Do ponto de vista econômico, significa autonomia frente a medicamentos essenciais, domínio de uma tecnologia e capacidade de expansão até para novas tecnologias, além da redução de custo”, explicou a ministra Nísia Trindade.

Segundo o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadêlha, com o funcionamento da fábrica, o valor dos medicamentos repassado ao SUS deve ser reduzido em torno de 30%.”Consequentemente, a gente vai ter um aumento na oferta desse medicamento, o que se traduz em qualidade de vida.

Para o hemofílico, significa exatamente isso: quanto mais ele consome esse medicamento, melhor fica a condição orgânica dele de enfrentar o dia a dia”, afirmou o secretário. De acordo com o ministério, cerca de 12 mil pessoas no país têm hemofilia A.

Entenda o que aconteceu com a fábrica da Hemobrás

A Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) é uma empresa estatal vinculada ao Ministério da Saúde, com sede em Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco;Foi criada em 2005 com o objetivo de reduzir a dependência do Brasil em relação ao mercado externo no setor de hemoderivados – medicamentos que têm como matéria-prima o plasma humano, um dos componentes do sangue;Com a fabricação dos hemoderivados, a expectativa é que o país seja capaz de produzir por conta própria medicamentos que hoje são importados para serem distribuídos no Sistema Único de Saúde (SUS), tornando as medicações mais acessíveis para a população;O primeiro módulo da fábrica da Hemobrás entrou em operação em setembro de 2012, dois anos após o início das obras, na cidade de Goiana, a 63 Km do Recife.

O projeto prevê, ao todo, 19 blocos, distribuídos numa área de 48 mil metros quadrados;O empreendimento conta com um investimento de R$ 1,4 bilhão. Segundo a Hemobrás, até este ano, já foram gastos R$ 1,1 bilhão com as obras;

A construção foi interrompida em 2016 – ano em que a unidade deveria ter ficado pronta – após o Tribunal de Contas da União (TCU) encontrar irregularidades no contrato com a empreiteira responsável pelas obras, cancelando o contrato.

A investigação começou em 2015, como parte de operação da Polícia Federal (PF);Na época, agentes da PF flagraram maços de dinheiro sendo arremessados de uma das janelas do prédio onde morava o então diretor-presidente da Hemobrás, Rômulo Maciel Filho, no Recife;

A diretoria da Hemobrás foi afastada por determinação da Justiça, após recomendação do Ministério Público Federal (MPF);Em setembro de 2022, a Justiça Federal condenou três réus por envolvimento em fraudes na construção da fábrica;Entre os condenados, estão dois ex-funcionários da Hemobrás e um representante da construtora Concremat Engenharia e Tecnologia S/A;

Segundo a Justiça, os três “agiram em conluio” na licitação para favorecer a construtora e desviar recursos públicos, incluindo no projeto e no edital para a contratação da empresa “cláusulas excessiva e injustificadamente restritivas”.

Como a fábrica funciona hoje

Desde a paralisação das obras, a empresa opera apenas com o primeiro bloco da fábrica, onde são feitas a recepção, a triagem e a estocagem do plasma;O plasma – assim como os outros componentes do sangue, não pode ser comercializado no Brasil, conforme o artigo 199 da Constituição Federal – é obtido a partir da doação de sangue e fornecido à fábrica por hemocentros de todo o país;

Ao chegar à unidade, os materiais são levados para a câmara fria da fábrica, onde ficam armazenados em bolsas a uma temperatura de 37 graus negativos;

No início da operação, em 2012, o fracionamento dos plasmas era realizado pelo laboratório francês LFB, que acabou perdendo a licença concedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para manter a parceria com a Hemobrás;Atualmente o processo é feito pelo laboratório Octapharma, da Suécia;

Os plasmas passam por uma análise de qualidade e, depois, são transportados para o laboratório na Suécia, que faz o fracionamento, convertendo a matéria-prima em hemoderivados.

Capacidade total

Segundo a Hemobrás, quando ficar pronta, a fábrica será capaz de fracionar até 500 mil litros de plasma por ano. Com isso, a expectativa é produzir quatro dos hemoderivados mais consumidos do mundo. São eles: Albumina – principal proteína encontrada no sangue, é indicada para tratamento de queimaduras e hemorragias graves, cirrose, insuficiência renal e septicemias e recuperação de pacientes que fizeram transplante de fígado ou cirurgias cardíacas;

Fator VIII – proteína do sangue usada no tratamento de hemofilia A, combatendo sangramentos;

Fator IX – outra proteína utilizada em pacientes de hemofilia B;Imunoglobulina – proteína produzida pelos linfócitos B, tipo de célula presente no sangue, e indicada para pessoas com doenças neurológicas, deficiências imunológicas e doenças autoimunes e infecciosas, além de Aids e púrpura.

Além dos hemoderivados, a fábrica será capaz de produzir o Fator VIII Recombinante. A substância é criada em laboratório a partir da proteína Fator VIII, sendo usada no tratamento da hemofilia.

Via G1 Pernambuco

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